quinta-feira, 26 de junho de 2008

40 ANOS DEDICADOS AO RÁDIO E AO JORNALISMO ESPORTIVO







"... Juntou todo mundo naquele estúdio grande da televisão aqui, que era lá embaixo e parecia um bando de 'boi no curral' quando vai pro matadouro... Eles falaram: 'Vocês têm ‘meia’ hora pra se despedirem dos colegas e pegarem os pertences de vocês nas gavetas'...Eu não gosto da INTERTV, não nego. Não vejo a INTERTV, não gosto de ver a Globo, por que ela é gerada pela INTERTV aqui ".



Nome completo: Sebastião Honório Remíggio
Data de Nascimento: Eu nasci em Janeiro. (risos).
Cidade Natal: Monteiro, PA, só que eu me criei na verdade em Pernambuco, então sou muito mais pernambucano que paraibano e muito mais mineiro que pernambucano. (risos).

Nairlan Clayton Barbosa:Você está há quanto tempo aqui em Minas Gerais?
Sebastião Remíggio: Eu cheguei aqui em 1970, na época era a primeira vez, e fiquei quatro anos, de 1970 a 1974, quando voltei outra vez pro Nordeste,e fiquei mais 06 anos no Nordeste, e voltei em 1980.

Nairlan Clayton Barbosa: O contato com o rádio desde os primórdios:
Sebastião Remíggio: Eu nasci numa roça, no interior do Nordeste, aos 10 anos de idade, meu pai, que tinha fazenda, vendeu e foi pra cidade, e eu então comecei a estudar e na minha cidade tinha um serviço de auto-falante muito bom na época, e eu achava aquilo muito bonito, e aquilo foi aflorando, agente quando tem uma tendência pra uma determinada função, parece que aquilo vem. E eu, então com 10 anos de idade comecei a ver isso, e gostava muito das músicas que tocavam na época, Luiz Gonzaga, Carlos Gonzaga cantava Diana, que eram músicas antigas, The Platters já rodava na época, e isso me dá uma recordação "terrível" da época que eu lembro como se fosse hoje. Aí comecei freqüentando essa coisa, desse serviço de auto-falante, e lá eu comecei a fazer locução e numa cidade próxima surgiu uma emissora de rádio e um dos diretores passando, me ouviu e gostou e me convidou pra trabalhar lá. E eu fiquei naquela ansiedade, por que era pra ir pra uma rádio, rádio AM, que era o que tinha naquela época, e demorou, foi no começo do ano, e em outubro de 1968, eles mandaram me chamar e eu fui. Saí com a cara e a coragem.
Saí da minha casa aos 18, 19 anos e nunca mais voltei. Voltei pra passear, por que aí eu fui mudando de rádio, fui andando por várias cidades do Brasil, principalmente do Nordeste, e a partir daí eu terminei vindo pra Montes Claros em 1970 e conheci uma moça, trabalhando numa rádio, terminei me casando muito jovem, na época com 20 anos, e a família dela morava aqui em Montes Claros, eu cheguei aqui no dia 21 de Abril, não me esqueço nunca, dia de Tiradentes, (que coincidentemente é aniversário da Rádio Terra também!) (risos). Aqui a gente tinha uns amigos, conterrâneos, por que aqui tem muito nordestino, você sabe não é Nairlan? Acho que proporcionalmente é como se fosse uma São Paulo do Norte de Minas e me levaram na Rádio Sociedade, com grandes locutores na época.

Nairlan Clayton Barbosa: Cite alguns nomes da época...
Sebastião Remíggio: Eu me lembro do Antônio Domingues, que eu fiz jornal com ele, depois veio o Eduardo Lima, já tinha o Sr Elias Siufi que era o ícone da comunicação na época, Félix Richard, Batista Caldeira, Gelson Dias, Edmar Procópio (pai do nosso colega Schuman Procópio), e então foi um aprendizado pra mim por que eu saía do Nordeste com um sotaque nordestino danado que até hoje eu tenho, e o Sr Elias falou: "Você tem uma voz boa, então você vai ter que aprender" e me colocou num estúdio de gravação e eu ficava lá... e aquilo tudo era tudo muito novo pra mim.







" Fui pro mineirão, 'capiauzão', (risos) nem conhecia direito o mineirão.






Nairlan Clayton Barbosa: O que você encontrou aqui na rádio, você não tinha lá em termos de tecnologia?
Sebastião Remíggio: A rádio aqui já estava bem mais adiantada do que o que eu conhecia lá. Tinha um gravador que eu não me esqueço nunca, um gravador "ampex", um negócio importado que era a "Voz da América" que mandava para as emissoras, e ele dava um brilho bonito e aquilo me encantou cada vez mais. Nessa época tinha também Alfeu Prates, que era comentarista esportivo, Luis Tadeu Leite também já estava, nós chegamos praticamente juntos, então foi um aprendizado e eu comecei a me desenvolver e comecei a ser titular do jornal Coteminas, que tinha uma edição ao meio dia e outra edição à noite (primeiro eu comecei à noite, depois eu fiquei fazendo as duas).
E terminei em 1974 retornando ao Nordeste, voltei na rádio em que eu tinha começado (eu estava de férias), os colegas me convidaram pra apresentar um jornal com um rapaz chamado Régis (não me lembro o sobrenome), e eu apresentei. Imediatamente o dono da rádio ligou e disse: "Você tem que voltar pra cá." Eu voltei a Montes Claros, pedi conta, eles não queriam me dar, mas aí eles me liberaram, por que era aquela coisa do nordestino de voltar à sua terra natal!
E voltei, eles me ofereceram vantagens e mais vantagens, Acontece, Nairlan, que essas vantagens só foram no primeiro mês, do segundo em diante (parece que é uma praga do rádio!) (muitas gargalhadas) não pagaram mais aquilo tudo que havia sido combinado.
E eu, até então era casado, mas não tinha filhos, aí nasceu a minha primeira filha, exatamente nessa mesma cidade, e aí a coisa começou a ficar complicada, por que quando é você sozinho, ou com uma companheira, qualquer coisa tá bom, mas quando nasce a criança... Então não dava mais. E eu tive que sair dessa rádio e fui trabalhar em Caruaru e trabalhei lá algum tempo, que hoje é uma cidade do porte de Montes Claros, mas fiquei pouco tempo lá, me chamaram pra trabalhar numa emissora rural que é da Igreja até hoje em Petrolina. Petrolina era uma cidade que estava começando a ser desenvolver com muitos projetos de agricultura irrigada, essa coisa toda, então em Petrolina eu cheguei em 1975 (você vê que eu fiquei pouco tempo nessa rádio), cheguei em 1975 e fiquei em Petrolina, aí pronto, foi outro aprendizado, uma emissora nova, da igreja, a igreja tinha convênio com a Alemanha, tinha técnicos alemães trabalhando na emissora, dando assistência técnica, AM com uma onda curta de 62 metros, uma rádio que tinha um alcance muito grande. E eu fiquei lá quatro anos.
Fiquei até 1979. Em 1979 eu fui chamado pra trabalhar em feira de Santana (BA), aí, vou eu pra Feira de Santana (chegando mais perto de voltar pra minas), aí fui dirigir uma rádio, o nome dessa emissora é "Rádio Subaé, tem ela até hoje lá, e tem também uma emissora de TV, por que a rádio pertencia a uma construtora que não tinha conhecimento de rádio e pensava que rádio dava um retorno financeiro igual ao que construtora dava...(risos) Nunca! Então, pouco tempo depois ela foi vendida para um grupo que se não me engano é dono até hoje, que é um grupo que tinha concessionária de automóveis, tinha um deputado federal, aí já saiu a liberação dessa televisão... mas eu não me dei bem com esse pessoal, e terminei saindo da emissora, eles me mandaram embora, me demitiram. Depois disso eu tive uma passagem em Salvador. Rápida, meteórica, ainda em 1979, fiquei em Salvador três ou quatro meses, trabalhando na Rádio Excélsius, e eu conheci uma pessoa de Itapetinga, na Bahia, dono de uma emissora de rádio, um jovem inclusive, que infelizmente faleceu, o Fernando. Aí o Fernando me chamou: "Você quer ir tomar conta da minha emissora?" Aí eu falei "Vou!" (isso já era começo de 1980). Aí eu fui e o Fernando (um jovem do Rio Grande do Sul) tinha conhecido uma filha de um fazendeiro forte lá, de cacau e de gado, e casou. E me entregou a emissora de mão fechada. Eu sempre tive, graças a Deus, essa coisa de inspirar a confiança das pessoas. Quando eu cheguei, que eu ví a realidade da emissora, que era uma boa emissora, mas com funcionários que não ganhavam nem um salário mínimo. E fui levando o barco.
Um dia eu estava de folga e resolvi dar uma chegada em Montes Claros, que era perto. Nisso, nos anos 80, estava surgindo a TV (então TV Montes Claros), e voltei na Rádio Sociedade, pra rever alguns amigos e colegas, conversei com o Sr Elias, e deu vontade de pedir pra voltar, conversei, e Eduardo Lima na época era o cara que tinha sido meu colega e que coordenava e emissora. Aprovaram, eu voltei pra Montes Claros, e a partir daí, não saí mais.

Nairlan Clayton Barbosa: Isso foi quando?
Sebastião Remíggio: Isso foi em 1980, já pra 1981. Eu fiquei na rádio sociedade, e depois fui pra TV Montes Claros, que na época tinha muito locutor.
Tem uma passagem interessante na TV Montes Claros: Em 1982, eu estava numa "lista negra" pra ser mandado embora de TV, por que eu era o mais novo dos locutores, e lá tinha entre outros, José Nardel, Félix Richard, Cid Mourão e eu era o quarto locutor na seqüência. Aí o Sr Elias me chamou: "Infelizmente eu vou ter que tirar você, porque o pessoal ta apertado..." Acontece que Nardel foi eleito vereador e largou a TV. Mourão teve um problema com o Sr Clodoaldo, que era o gerente e foi mandado embora.
Ah, sim, tinha Cid Monteiro também que era locutor, mas Cid Monteiro foi embora pro Ceará, aí só restou eu que era o que ia ser mandado embora. Aí disseram: "Não, você não vai ser mandado embora mais não, você vai ficar. Volta, fica aqui!" (risos). Então Nairlan, eu fiquei, durante todo o tempo, você me substituiu algumas vezes que eu saí de férias né?

Nairlan Clayton Barbosa: É, eu tive essa responsabilidade dificílima!Sua voz era a cara da TV e eu tenho apenas uma voz média. Não é tõa grave quanto a sua. Foi difícil.
Sebastião Remíggio: Até o ano de 2003 quando infelizmente a emissora foi vendida pra esse grupo INTERTV, que fizeram um desrespeito terrível com os funcionários da emissora. Se tem uma coisa que eu não me esqueço nunca Nairlan, é da maneira que esse pessoal da INTERTV mandou não só eu, mas sessenta e tantos colegas na época. Juntou todo mundo naquele estúdio grande da televisão aqui, que era lá embaixo e parecia um bando de "boi no curral" quando vai pro matadouro. Eu nunca falei isso, e tô desabafando agora, no seu blog. Então o quê que eles fizeram? Justificaram "... Ah, por que é um novo grupo, tal..." fizeram uma coisa terrível: Em cada departamento, ("...Você não tá, você tá...) entre eles eu. O pior de tudo, não é você ser demitido, é a maneira como eles fizeram. Não tiveram ombridade nem humanidade de chamar de uma a um e dizer "Não vamos mais precisar, por que não vai ter mais locutor" no meu caso né? Que era o locutor da casa. E o pior de tudo foi isso: Eles falaram: "Vocês têm ‘meia’ hora pra se despedirem dos colegas e pegarem os pertences de vocês nas gavetas."





" E eu achava que o Funorte era 'fogo de palha'. E os erros que aconteceram, eu tributo esses erros a duas pessoas: Geibson Moura e Paulo César o técnico. Enquanto estas pessoas estiverem dentro do Funorte, a equipe não vai pra frente".



Desse jeito Nairlan! Quem estava comigo (foram vários e vários), lembram disso.
A INTERTV fez essa desfeita com grandes profissionais, inclusive com chefes como o Camacho, que era o meu chefe direto, o nosso querido diretor executivo, o Sr Heitor, que infelizmente nos deixou, faleceu, e muitos outros. A INTERTV teve essa indelicadeza. Tanto é que eu não gosto da INTERTV, não nego. Não vejo a INTERTV, não gosto de ver a Globo, por que ela é gerada pela INTERTV aqui. Pela sacanagem que eles fizeram comigo.

Nairlan Clayton Barbosa: Você pode dizer pra gente se ficou realmente uma mágoa?
Sebastião Remíggio: Ficou uma mágoa muito grande. Eu estava com 22 anos de casa, e eu não tinha nem essa noção, mas eu tinha 36 anos e 04 meses de carteira assinada, faltando 01 ano e alguns meses pra eu me aposentar integralmente, o que eu não conseguí até hoje por tempo de trabalho, por causa da "Dona" INTERTV. Eu queria que você citasse isso no seu blog.
Graças a Deus, eu sempre fiz grandes amigos por onde eu passei. Eu nunca fechei as portas. Aí, primeiro, vem a Rádio Sociedade, que você sabe que em 1995 ela foi transferida para a LBV, e mandaram todo mundo embora, acabaram com uma tradição no rádio, que era a coisa mais importante que eu achava, era a Rádio Sociedade. Isso foi em 1995. No em dia que me mandaram embora já existia a Rádio Terra, eu morava na Cula Mangabeira, meu amigo inesquecível Nardel, esteve lá, e falou: "Olha, eu quero você amanhã na Rádio Terra", mas como eu ainda estava na TV, eu pedi um tempo pra descansar, por que rádio você sabe como é que é né? Em 1997, Nardel chegou lá em casa e me intimou: "Amanhã, você esteja na rádio" desse jeito! (risos) Eu falei "Ta bom!" Cheguei aqui, muita gente não me conhecia, tinha uma moça que era secretária, a Aline, Eu falei "Olha Aline, eu estou aquí, por que Nardel me chamou", e ela disse: "Qual é o seu nome?", "Meu nome é Sebastião", "Ah, pode trabalhar!" e comecei a trabalhar. Aí fui fazer redação de esporte. Isso com relação à Rádio sociedade.

Nairlan Clayton Barbosa:Então você entrou na Rádio Terra em 1997?
Sebastião Remígio: Também, coincidentemente em Abril de 97, (risos)

Nairlan Clayton Barbosa: (risos...) Engraçado que todos os lugares que você foi e por onde passou sempre foi em abril não é mesmo?... Pelo menos os bons lugares de que você se recorda...
Sebastião Remíggio: É verdade. E vim nessa trajetória na rádio, e em 2002 perdemos o Nardel, que era o ícone da rádio, o cara que fez tudo pela rádio. É claro que a rádio se moderniza, ta passando né? E depois da morte dele, os donos Luis Tadeu Leite e Antônio Dias me chamaram pra assumir essa responsabilidade que já faz 06 anos que eu estou graças a Deus e tentando fazer o melhor de mim.
Então, a minha vida em síntese é isso. Eu passei por outras emissoras, passei em Caruaru, na Rádio Liberdade, passei na Rádio Olinda, em Olinda (PE), mas passagens muito rápidas que eu nem faço questão de citar.
Mas já se vão de 1968 pra 2008, são 40 anos não é Nairlan?.

Nairlan Clayton Barbosa: Então esse ano, no último Abril, nós podemos dizer que você completou 40 anos de rádio?
Sebastião Remíggio: 40 anos de rádio, exatamente.

Nairlan Clayton Barbosa: Tião, uma pergunta peculiar, só pra quebrar o gelo, qual o menor tempo que você passou numa emissora de rádio?
Sebastião Remíggio: Eu acho que o menor tempo que eu fiquei foi nessa rádio de Itapetinga mesmo! Eu cheguei por volta do mês de junho ou julho, não me recordo bem, e acho que um mês depois eu saí e vim pra cá, e voltei só pra dar uma satisfação.
Com relação a esse rapaz, o Fernando, talvez se seu tivesse continuado, eu não estaria vivo aquí, por que houve um desastre de helicóptero que vitimou o então candidato a governador da Bahia, (esqueci o nome dele agora), e o Fernando estava no meio, e o Fernando, pra onde ele ia, ele queria me levar, ou me levava. Talvez eu estivesse nesse helicóptero também. Mas eu já estava aqui quando aconteceu esse desastre e ele morreu.

Nairlan Clayton Barbosa: Uma outra pergunta que eu gostaria de fazer antes de nós colocarmos a questão do seu tempo no rádio, o seu contato com o meio esportivo, ele se deu aqui em Montes Claros?
Sebastião Remíggio: Em Petrolina, eu tive um grande companheiro chamado Jorge Augusto, que veio junto comigo. A rádio, o padre, quando concedeu a emissora e modernizou, fez questão de trazer pessoas nas suas áreas, aí trouxe esse Jorge Augusto para ser o narrador esportivo, que era um ótimo vendedor, ganhou dinheiro como ninguém lá em Petrolina, mas também gastou como ninguém. Ele era narrador esportivo, e um dia precisaram de um reporter lá. Aí sugeriram "... Ah, vai fazer repórter..." Eu, todo mundo sabe que minha voz sempre foi muito forte né? Mas aí eu tentei colocar a voz pra ser dentro, mais ou menos, do futebol.
Em Caruaru eu já tinha tido uma experiência apresentando um programa esportivo, e lá era uma coisa bem corrida mesmo e a partir daí eu comecei a fazer reportagem, aí fiz
muitas reportagens lá em Petrolina, e em Juazeiro né? Por que tinha um campeonato entre as duas cidades que era uma movimentação terrível, cobri jogos, fui pra Feira de Santana, lá também eu era chefe da rádio, chefe da programação e tinha um colega chamado Dílson Barbosa, que era do departamento de esportes, e eu viajei muito com ele pra cobrir jogos do Bahia, do Vitória, eu conheci boa parte do Mato Grosso do Sul, Paraná, viajando com ele, cobrindo jogos do Bahia.
Chegando aqui, Nardel precisou de um repórter. Aí eu disse: "Eu faço!" Fui pro mineirão, "capiauzão", (risos) nem conhecia direito o mineirão. O problema é o jogador né? Que você vê o jogador na fotografia é uma coisa, e quando você chega perto é totalmente diferente! Mas aí eu fiz, e me saí bem. (Razoavelmente bem). E Nardel falou: "Você vai continuar." E continuei!







"...Eu peguei o microfone, num ato automático, 'sentei' o microfone na boca desse cara..."





Nairlan Clayton Barbosa: Teve alguma história de alguma transmissão, que quando você se recorda você ri, ou chora? (risos)
Sebastião Remíggio: Teve um jogo que eu fui entrevistar o Luizinho, (da década de 80, saído da seleção brasileira, infelizmente aquele fracasso de 1982) e ele não me concedeu a entrevista, eu fiquei chateado, por que ele não era muito de falar também não, mas ele foi mau educado comigo. Agora, o grande detalhe é que no jogo seguinte eu estava lá e ele foi lá me pedir desculpas. "Olha você me desculpa por não ter dado a entrevista, que eu estava chateado!" Era um jogo em que o Atlético tinha perdido, você sabe como é que é né? Aí, me deu a entrevista e eu terminei até ficando conhecido dele.
E Reinaldo também foi um dos maiores jogadores que eu vi atuando no mineirão, infelizmente tinha um Osíres no Cruzeiro que batia mais que defendia.
Toninho Cerezo também... Eu me lembro que uma vez eu estava num jogo Santos X Atlético, dez horas da manhã, num domingo, jogo amistoso, você imagina?(risos) Toninho Cerezo estava jogando (nós fomos transmitir esse jogo não sei como, por que cargas d’água, por quê) e o Toninho Cerezo saiu com uma camisa do Galo na mão, e eu sempre fui muito tímido pra pedir essas coisas (eu peço, o cara me dá e eu fico chateado), aí eu pedi a camisa e ele me deu. Eu nem sei, acho que guardei, ou sumi essa camisa.
Então, voltando a falar do futebol de Montes Claros, o Ateneu foi um clube que eu aprendi a gostar, a amar o Ateneu mesmo, por que eu vivi o Ateneu muitos anos, com diretorias diferentes, viagens e mais viagens, e teve um jogo em Ubá, (Aimorés de Ubá X Ateneu) numa quarta feira à noite, esse jogo teve uma briga generalizada e não sei por quê um cara partiu pra cima de mim. Eu peguei o microfone, num ato automático, "sentei" o microfone na boca desse cara, e o cara caiu, o jogador. Oh, Nairlan, meu Deus do céu, eu só via era "nego" querendo me pegar! (risos) E perdi microfone, perdi fone, perdi cabo. Era eu e Gelson Dias. Aí Gelson gritou: "Oh, Meu Deus, vão matar meu companheiro!!!" (risos) E a minha salvação na verdade foi Didí (esse que era treinador de futebol você conhece ele né?) Ele era goleiro do Aimorés, aí ele "tomou a frente" e disse "...Não, nesse aqui ninguém vai bater!" Eu devo esse favor a Didí até hoje.
E são muitas passagens que me marcaram, eu não, acho que a população inteira! O Ateneu era o time que mais perdia. Teve uma vez que eu estava com Alfeu lá em Araxá e o Ateneu tomou uma goleada de 8X0, eu estava com tanta vergonha que eu saí de costas! (risos) .

Nairlan Clayton Barbosa: Então você se considera mesmo um torcedor do "Broca"?
Sebastião Remíggio: Ah, sim. Eu não nego.

Nairlan Clayton Barbosa: Nesse caso eu não posso deixar de fazer a pergunta sumária, que é perguntar, aliás, dizer pra você que você infelizmente torceu contra meu pai! (Risos)
Sebastião Remíggio: É, seu pai foi um dos maiores jogadores da história. Na verdade eu não me lembro do seu pai jogando, mas se fala maravilhas dele e de outros grandes jogadores que nasceram em Montes Claros e que jogaram no futebol de Montes Claros. Eu sou mais recente, sou dá época do Marcel Júnior, Helton Veloso (que jogava como lateral esquerdo).

Nairlan Clayton Barbosa: Poderíamos citar o Jânio também?
Sebastião Remíggio: Com certeza, o Jânio Lima Borges inclusive tivemos uma amizade muito grande no futebol, pra mim foi um dos maiores jogadores recentes de Montes Claros, apesar de terem surgido outros, teve um jogador que passou pelo Atlético, acho que se chama Ninha, e outros que surgiram.





"Quiseram jogar uma emissora contra a outra quando na verdade não era nada disso. Eu não vou mentir também, que o advento de uma outra emissora fazendo futebol pegou a nós, da Rádio Terra de surpresa. "



Nairlan Clayton Barbosa: Qual o futuro do futebol de Montes Claros?
Sebastião Remíggio: Olha Nairlan, a experiência ensina. Eu já vi o "fundo do poço" com o Ateneu, aí o Ateneu não deu certo, o Cassimiro disputou o campeonato da segunda divisão, aí veio o União São Pedro, volta o Ateneu, quando a gente pensa que acaba tudo surge o Montes Claros que foi um movimento muito grande de torcedores, de diretoria, da própria indústria, comércio. O Montes Claros tinha tudo pra dar certo e ser um clube até hoje. Os problemas surgidos, não me cabe aqui comentar. E depois, passou o Montes Claros, e o que é que se vislumbrava? Bom, acabou totalmente o futebol profissional! Surge o Funorte. Eu sou sincero e não vou mentir. Eu achava que o Funorte era um clube de um ano só, mas pra minha surpresa...

Nairlan Clayton Barbosa: Na sua opinião foi uma boa surpresa?
Sebastião Remíggio: Muito bom que o Funorte já esteja outra vez imbuído pra disputar o campeonato da segunda divisão e espero que os erros cometidos ano passado não se repitam esse ano, por que nós tivemos erros crassos no time do Funorte, e não foi por falta de aviso.

Nairlan Clayton Barbosa: Você quer falar sobre os erros?
Sebastião Remíggio: Eu quero. Houve até...
Quiseram jogar uma emissora contra a outra quando na verdade não era nada disso. Eu não vou mentir também, que o advento de uma outra emissora fazendo futebol pegou a nós, da Rádio Terra (que até então, jogávamos soltos, sem marcação, sem nada), de surpresa! Mas foi bom, por que isso faz com que os profissionais, eles tentem ser melhores por que vão surgindo outros, surgiu você (Nairlan), o Reivaldo Barbosa, o Lú Sales, o pessoal da equipe lá.
E eu achava que o Funorte era "fogo de palha". E os erros que aconteceram, eu tributo esses erros a duas pessoas: Geibson Moura e Paulo César o técnico. Enquanto estas pessoas estiverem dentro do Funorte, a equipe não vai pra frente. Inclusive o Geibson foi à cabine da rádio mostrando planilhas de jogadores... Olha Nairlan, eu não sou pago pra ser preparador físico, eu sou pago pra ser repórter, somos pagos pra observar, e se estiver errado a gente vai falar... Então como eu te disse, enquanto estas pessoas estiverem no comando do time, esse time nunca vai pra frente. Mas fiquei sabendo da contratação do Luiz Eduardo, me parece ser um moço, sério, veio da equipe do Araxá, parece ser muito profissional. Também, os jogadores contratados... ou seja, parece que dessa vez a equipe vem mesmo pra ganhar o campeonato, parece que a direção mudou de opinião e a gente fica muito feliz com isso.

Nairlan Clayton Barbosa: Tião, você falou dos novos profissionais, e eu me incluo neles, obviamente, gostaria que você, da altura dos seus 40 anos de profissão, pudesse dar uma palavra de incentivo pra gente.
Sebastião Remíggio: Olha Nairlan, o caminho é longo. Muito tem que se aprender com essa profissão e a gente está sempre aprendendo. Mas olha, eu confesso que vi você narrando e... olha só, vou te falar... na década de 70 eu vi um rapaz novo narrando na Rádio Sociedade e eu disse pra ele: " Você leva jeito, pode prosseguir que você leva jeito.." Sabe quem era esse rapaz Nairlan? Era o Nardel. E quem foi o Nardel na narração esportiva hein?... todos nós sabemos, ele foi pra outras emissoras, viajou pra Alemanha com o Cruzeiro, foi pra copa de 94 com a seleção brasileira. Então, eu vou dizer, não é por que está na sua frente, mas eu vou dizer, depois daquela época, em que eu disse isso para o Nardel, digo hoje pra você: " Você leva jeito, coloca muito bem a voz nas suas narrações esportivas e você vai longe." É claro que você ainda tem muita coisa pra aprender. Mas você vai aprender e vai se tornar um grande narrador. Escreva isso.

Nairlan Clayton Barbosa: Agradeço o elogio e a confiança Tião. Com isso a responsabilidade aumenta não é mesmo?
Sebastião Remíggio: (risos)Pode acreditar, você será um grande narrador esportivo.

Nairlan Clayton Barbosa: Pra fechar este nosso bate papo, Tião eu deixo você a vontade para falar sobre o resumo desses 40 anos dedicados ao rádio e ao esporte.
Sebastião Remíggio: Bom, é isso que eu tenho pra dizer, fico feliz hoje de fazer parte da história do rádio aqui em Montes Claros. Já viajei o Brasil fazendo isso que é o que eu gosto, e é isso... não tenho mais nada a dizer...só agradecer você por ter inaugurado seu blog comigo. Fiquei muito feliz.